Stephen Kanitz: “não temos problemas econômicos, somos um país mal administrado”
O consultor de empresas Stephen Kanitz apresentou o cenário econômico do Brasil ao público da 14ª edição do Pajuçara Management, o maior evento corporativo das regiões Norte e Nordeste. Kanitz encerrou as atividades do primeiro dia da programação com discurso otimista acerca do futuro da economia brasileira e revelou que o país precisa desenvolver uma cultura administrativa.
Quando o Brasil enfrentou a inflação galopante, nos anos 90, Kanitz foi um dos poucos especialistas a acreditar no sucesso do Plano Real e a indicar para os empreendedores um público promissor: os consumidores de baixa renda. Agora, diante de um novo período de instabilidade econômica no país, ele destaca bons indicadores: “de janeiro até aqui, a indústria ficou mais confiante e teve alta nos últimos dois meses, as pessoas passaram a investir em construção civil e serviços de engenharia na bolsa de valores, as classes C e D têm comprado material de construção para reformar suas casas e a demanda por crédito começa a crescer”, pontuou.
Segundo ele, as famílias brasileiras também são pouco endividadas, apesar dos juros elevados. “A corda no pescoço do brasileiro é a alta taxa de juros, mas as famílias são pouco endividadas, em relação ao tamanho do PIB e dos próprios grupos familiares. Se reduzirmos a tributação, teremos um crescimento maior”, enfatizou.
Na visão de Kanitz, o cenário pode ficar ainda mais otimista se a atual conjuntura política do Brasil se consolidar, com Henrique Meirelles no primeiro escalão do Governo Federal. “O Brasil não pode ficar sem uma política administrativa. Pela primeira vez, temos uma pessoa formada em Administração no Ministério da Fazenda. É um momento histórico do país. O administrador é um político que mantém questões antagônicas em sintonia”, avaliou.
Ele lembrou que apesar do sucesso do Plano Real, a política adotada ancorou a moeda brasileira ao dólar, problema solucionado por Meirelles, no governo Lula. “40% da dívida interna estava ancorada ao dólar, o que não fazia sentido. Meirelles transformou toda nossa dívida interna em real, começou a fazer reservas externas em dólar e colocou fim à âncora cambial”, salientou.
Ele declarou que o QI administrativo do Brasil ainda é baixo, enquanto o econômico é alto, mas que falta à maioria dos economistas critérios administrativos. “Não temos problemas econômicos, somos um país mal administrado. O Estado acumula problemas porque não temos a visão do administrador, que pode até não tomar uma decisão excelente, mas encontra soluções rápidas”, disse.
Sem problemas acumulados, tanto o país quanto as organizações passam a dar mais atenção aos que surgem, conforme o especialista. Kanitz também comparou a crise no Brasil às registradas nas grandes empresas e sinalizou que o novo ministro será importante para recuperar a confiança no país. “A crise que vivemos é comum em muitas empresas, quando há briga de acionistas. No caso do Brasil, é uma disputa de partidos. A diferença é que, nas organizações, a equipe administrativa não permite que o conflito afete nos resultados. Isso precisa acontecer no país”, destacou.
Kanitz também revelou que uma boa gestão trabalha com aquilo que chamou de “colchão de segurança”. A ideia é estimular as empresas, as famílias e o governo a ter reservas financeiras suficientes para enfrentar as crises futuras. “Todas as crises foram nefastas para o Brasil porque nossas reservas sempre acabaram antes”, disse.
Tendência de Mercado
O consultor de empresas destacou que, mesmo na crise, os empreendedores devem investir nos consumidores das classes C e D – segmento que, nos últimos meses, tem sinalizado intenção de compra. “Pesquisas apontam que os mais pobres pretendem consumir mais neste ano, enquanto os mais ricos vão conter gastos. A intenção de consumo dos consumidores de baixa renda aumentou e muitos dos produtos que não foram comprados nos dois últimos anos serão adquiridos agora, a exemplo das geladeiras”, destacou.
A afirmação de Kanitz foi baseada em estudos recentes do Instituto Data Popular, responsável por mais de 200 pesquisas sobre o comportamento dos consumidores das classes C e D. O diretor da empresa, Renato Meirelles, apresenta nesta terça-feira, 8, às 15h, o novo padrão de consumo dos brasileiros ao público do Pajuçara Management 2016.
Pajuçara Management 2016
Ainda passam pelo Pajuçara Management grandes líderes brasileiros, como o medalhista olímpico Fernando Scherer, a coach Vicky Bloch e o empresário Carlos Wizard. As inscrições podem ser feitas no local do evento, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá. Os interessados podem optar pelo investimento na programação completa ou em palestras avulsas. Confira a programação aqui.