“É importante melhorar o otimismo do consumidor”, disse Meirelles
Com o Teatro Gustavo Leite lotado, Renato Meirelles começa sua palestra fazendo um convite aos participantes do Pajuçara Management 2016: “Por trás de cada gráfico e dos números, peço que vocês lembrem que há uma história de brasileiro. Tem medo, tem sonhos e tem expectativa”. Ele constata em suas pesquisas que há muitas demandas reprimidas no Brasil, mas que “é importante melhorar o otimismo do consumidor e enxergar a luz no fim do túnel”.
O empresário é diretor do Instituto Data Popular, responsável por mais de 200 estudos sobre as classes C e D, e apresentou durante sua palestra a mudança no comportamento dos consumidores de baixa renda nesse período de crise e as estratégias para atrair os segmentos mais populares, especialmente no varejo.
Para falar sobre a história dessas pessoas, Meirelles fez uma retrospectiva para mostrar de onde elas vieram para chegar ao momento atual. Na última década, enquanto a renda dos 25% mais ricos cresceu 30%, a dos 25% mais pobres cresceu 81%. “Isso significa que a renda dos mais pobres cresceu quase três vezes mais que a renda dos mais ricos. Esse fenômeno fez o Brasil deixar de ser um país de estrutura de pirâmide social com mais gente na base da pirâmide para ter uma estrutura de losango social, com mais gente da classe C onde se convencionou chamar de nova classe média brasileira”, declarou.
Ao falar com a plateia para saber qual a classe social as pessoas se consideravam inseridas, ele confirmou o que disse acontecer em outros lugares: todo mundo acha que é classe média. “Isso acontece porque a gente sempre conhece alguém que tem mais dinheiro que a gente e quem tem menos dinheiro que a gente. Por isso, a gente tá na média”, disse Meirelles, levantando risos da plateia.
Ele mostrou com números que o Brasil ainda é um país muito desigual, mas nos últimos 20 anos, a classe C subiu para 54%, ou seja, é a maioria absoluta dos consumidores brasileiros. “As classe A e B saíram de 14% para 25%. O que fez as pessoas saírem da classe D para C foi o emprego formal; o que fez as pessoas saírem da classe C para A e B foi o empreendedorismo. Hoje, metade das classes A e B é a primeira geração das pessoas com dinheiro. E eu estou falando do dono de padaria, de mercadinho… de milhões de brasileiros que têm bolso de classe A e cabeça de classe C”.
Meirelles chama atenção para parcela da população que tem outro modo de pensar e dinheiro para gastar. “Dos 15% mais ricos da população brasileira, só 37% têm curso superior, ou melhor, 63% não têm; só 31% praticam ou falam inglês e 19% fizeram alguma viagem internacional – e eu nem exclui o Paraguai da lista; 47%, quase metade, têm o pagode como principal estilo musical”.
Ele mostra os dados para lembrar que as estratégias de vendas devem levar em consideração a realidade da maioria das novas classes A e B. “A classe C é importante não só porque é 54% da população brasileira, mas porque a C de hoje é a A e B de amanhã”, destacou.
Outra mudança destacada foi a internet. “Na última década, enquanto a população brasileira cresceu 10%, os internautas das classes A e B cresceram 143% e os da C, 204%. A realidade da internet brasileira mudou. Hoje, só na classe C eu tenho 55,6 milhões – é a maioria absoluta de internautas – e se eu junto com a D e E, aí 2/3 dos internautas estão nas classes C, D e E. Só analisando a classe C, ela movimenta com seus salários mais de 650 bilhões de reais por ano, dentro e fora da internet, mas graças à internet pode ser influenciada.
Diante dos dados apresentados, Meirelles considera que o brasileiro entre na crise por que passa o Brasil de um jeito diferente das anteriores. “Num passado recente, esse aumento da renda fez com que eles passassem a consumir produtos e serviços que antes eram exclusivos da elite e com isso mudou a regra de qualidade. O brasileiro ficou mais exigente na hora de escolher”, apontou.