Demétrio Magnoli discute cenário político brasileiro e as perspectivas sobre novo governo
O sociólogo e comentarista político Demétrio Magnoli abriu os trabalhos do Pajuçara Management nesta terça (8), segundo dia do evento. Ele agradeceu o convite e disse ser um prazer estar de volta a Maceió depois de dois anos. Demétrio falou sobre o cenário político, social e econômico do Brasil e do Mundo e para discutir o “turbulento” panorama político brasileiro no horizonte 2016-2018, lembrou a Física e usou a singularidade, efeitos que rompem as regras normais de funcionamento da natureza e se criam novas regras ainda desconhecidas, sugerindo transpor esse conceito com a história econômica.
“Na história econômica existe também uma série de singularidades, alguns momentos de ruptura da ordem conhecida das coisas, das leis conhecidas do sistema econômico. Hoje, nós estamos saindo de uma dessas singularidades, o que se costuma chamar de super ciclos de commodities e eu prefiro chamar de período da globalização chinesa, que corresponde à primeira década do século 21. Esse período desafiou as regras normais de funcionamento do sistema econômico e a causa dessa singularidade foi a entrada da China como grande ator global na economia mundial”, destacou.
Ele contextualizou a situação político-econômica mundial e especificamente a do Brasil, fazendo o comparativo com países da América Latina, Rússia e Turquia. Demétrio descreveu como a marcha da crise o período de Dilma Rousseff no poder. “Adotando todas as medidas heterodoxas, Dilma vai produzindo um desastre econômico sem conseguir produzir o mesmo nível de crescimento econômico como existia antes”.
Na retrospectiva apresentada, Demétrio fala em 2013, com as jornadas de junho e como o governo perde as ruas, porque a população passou a cobrar escolas no padrão Fifa, já que coincidiu com o período da Copa das Confederações. “Em 2014 [ano da reeleição], Dilma Rousseff comete o estelionato eleitoral que, somado ao escândalo do “petrolão”, provoca a perda da legitimidade. Em 2015 e 2016, a voz das ruas, a Lava Jato e a elite política promovem a perda da governabilidade”.
Após a “queda” vêm os desafios de Michel Temer: a estabilização fiscal e a urgência das reformas. Sobre o atual momento brasileiro, Demétrio aponta duas opções para o governo: “Procurar estabelecer uma maioria no Congresso (Nacional). Usando as armas do presidencialismo de coalizão, ou seja, distribuindo os cargos públicos com os políticos ou pode procurar o apoio da opinião pública e, para isso, precisa entrar em guerra com o presidencialismo de coalizão. E ele vai acabar fazendo um pouco de cada um”.
E qual será futuro do Brasil nos próximos anos? Sobre isso, Magnoli faz alguns questionamentos: “À limpeza do Estado e da administração pública, a ruptura da tradição do presidencialismo de coalizão ou uma reação da elite política na qual direita e esquerda se unam para evitar que a nossa operação mãos limpas [fazendo uma alusão ao que aconteceu na Itália nos anos 1990] vá mais adiante e para restaurar o sistema vigente até hoje?”.
Segundo Demétrio, o Brasil vai assistir, em 2018, a uma disputa que tem muito a ver com isso. “Se queremos levar até o fim o processo de explosão do sistema político tradicional ou se direita e esquerda vão se unir no Brasil, como foi feito na Itália, para salvar o núcleo da elite política”.
Sobre perspectivas em relação ao governo Temer e se as medidas tomadas dão sinal de que haverá mudanças no cenário econômico, Demétrio afirma que, por enquanto, não há medidas, mas sim uma carta de intensões. “A equipe econômica de Temer é extremamente competente, capaz e, em minha opinião, aponta o rumo correto, uma combinação de estabilização fiscal de médio prazo, num horizonte de três, quatro anos. Ao mesmo tempo, aponta para reformas econômicas estruturais, principalmente, uma reforma previdenciária e com alguns sintomas de um reforma no mercado de trabalho”.
Ele lembra que, por enquanto, nada passou no Congresso. “A única coisa que o Congresso votou foi um programa onde existe um teto de gastos públicos que é uma declaração de intenções da equipe econômica e que depende de uma série de votações. O dilema agora é como conduzir uma política econômica em meio à crise, de restrição fiscal e de reformas supostamente impopulares”.